sábado, abril 19, 2014

Capitão Cruz Fernandes revisita obras do MFA em Montemuro (Castro Daire)

actualizado: Tue, 15 Apr 2014 13:14:42 GMT | de Lusa
O capitão de Abril Cruz Fernandes regressou 40 anos depois à Serra de Montemuro, para “passar revista” às “pegadas” do MFA que resistiram à voragem do tempo, tendo sido recebido com emoção.


LUSA/LUSA
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Em Castro Daire, que acolheu a mais longa campanha do Movimento das Forças Armadas (MFA), Manuel Cruz Fernandes, agora coronel reformado, de 79 anos, encontra-se com o amigo Augusto Andrade.
Este antigo motorista da Escola Preparatória João Rodrigues Cabrilho acompanhava diariamente os emissários da revolução no contacto com as populações, em 1975 e 1976.
O civil acabou por tornar-se uma espécie de “ajudante de campo” de Cruz Fernandes no tempo recorde que o MFA permaneceu nas encostas de Montemuro: um ano, um mês e um dia.
Andrade espera Fernandes à entrada dos Bombeiros de Castro Daire. As primeiras palavras vão para os amigos comuns e o desenvolvimento que a vila e as povoações em redor assinalaram desde a saída do MFA, em maio de 1976.
A conversa “calcorreia” aldeias, escolas, coletividades, salões paroquiais, feiras de gado, capelas, festas e romarias.
Cruz Fernandes menciona nomes de lugares onde difundiu o ideário da Revolução dos Cravos e impulsionou diversos melhoramentos.
“Eu falo deste concelho como se cá tivesse nascido”, afirmou à agência Lusa Cruz Fernandes, que, no auge da Campanha de Dinamização, batizou uma filha na capela de Picão, tendo escolhido para padrinhos um casal de Castro Daire.
Na altura, o pároco da Gralheira convenceu o “senhor capitão”, como era conhecido entre os montanheses, da necessidade de rasgar uma estrada unindo Picão àquela aldeia do município de Cinfães, numa extensão de 12 quilómetros.
“O próprio padre Ilídio dava o exemplo e trabalhava na obra como qualquer paroquiano. Só tínhamos dois padres que não estavam com o MFA”, contou Cruz Fernandes.
Augusto Andrade, 76 anos, que integra a Assembleia Municipal de Castro Daire, eleito pelo PS, disse que alguns conterrâneos ainda lhe costumam perguntar: “E o capitão Fernandes?”.
Sobejamente conhecido no concelho, o motorista assumiu-se no terreno como forte aliado do MFA.
“Eu já era de uma família de esquerda, o que também ajudou”, admitiu à Lusa.
Augusto Andrade, que também foi bombeiro, minimizou a capacidade de reação dos contrarrevolucionários: “Poderiam falar por fora, mas provocações não havia porque tinham medo”.
Desde a passagem do MFA por Castro Daire, as populações “modificaram um bocadinho para melhor” e têm “uma mentalidade mais aberta”, acrescentou.
Há 40 anos, Augusto Andrade já era “uma pessoa aberta desejosa de progredir”, salientou Cruz Fernandes.
Ambos partiram uma perna num acidente rodoviário e essa circunstância reforçou a sua amizade.
“Quando regressei do hospital, tive a surpresa de o carro já estar consertado por quotização das pessoas”, lembrou o agora coronel.
Antes da estrada nova, Póvoa de Montemuro “tinha apenas um caminho de cabras” que impedia o desenvolvimento.
Noémia Machado, 72 anos, antiga professora da escola primária local, enalteceu à Lusa o papel do MFA e recordou que quando tirou a carta de condução, quis comprar um carro, mas foi desaconselhada. Empenhou-se depois na ligação Picão-Gralheira.
“Antes da estrada, não tínhamos cá nada”, explicou Noémia Machado.
“Foi uma coisa como da noite para o dia”, disse à Lusa Júlio Paiva Inácio, 61 anos.
Em 1975, Paiva Inácio cumpria o serviço militar em Lisboa, integrando o Comando Operacional do Continente (COPCON). Mas quando estava de folga, na Póvoa, o ex-emigrante ajudava na abertura da via.
Na capital, sob o comando de Otelo Saraiva de Carvalho, “foi muito bom conviver com o povo, porque nós éramos do povo”, disse o antigo militar do COPCON.
No café da Póvoa, emocionado, enquanto come salpicão, pão e vinho, Cruz Fernandes é saudado por mais pessoas, como Aida Cardoso, que há 40 anos frequentava a escola local.
“É uma espécie de fraternidade”, afirmou, realçando que os moradores “participaram no mesmo esforço” de melhorar as condições de vida na Serra de Montemuro.

1 comentário:

Unknown disse...

fiz parte da equipa de veterinários, durante um ano. que recordo com saudade dos trabalhos e dos companheiros.