segunda-feira, maio 26, 2014

Enxames, estradas e abstenção (Cabril - Castro Daire)

ELEIÇÕES EUROPEIAS

Enxames, estradas e abstenção

Pelo menos numa freguesia de Portugal, a taxa de abstenção tem fortes possibilidades de ser menor do que nas últimas europeias.

Parte da culpa da abstenção de 2009 pertence a um enxame de abelhas - FRANK RUMPENHORST

Na freguesia de Castro Daire, apenas 5,27% dos eleitores votou em 2009
AutorFábio Monteiro


Porquê é que em 2009, na freguesia de Castro Daire apenas 5,27% dos eleitores votou para o Parlamento Europeu, o valor mais baixo em todo o país? E porque é que desta vez não se vai repetir?
A estatística é surpreendente e as razões ficaram perdidas no tempo. APORDATA só compila os dados, não os explica. António Pessoa, membro da Guarda Nacional Republicana, destacado em Castro Daire, distrito de Viseu, afirma que “não existem festas [populares] nesta época [do ano]. Nem aqui, nem nas redondezas.” Esforça-se por lembrar o motivo que pode ter causado tamanha abstenção, mas não lhe ocorre nada. Nada que justifique uma apatia tão grande para com a política europeia. Nem mesmo “as chatices com o Governo” podem justificar uma taxa de abstenção tão elevada, diz o militar. No concelho com o mesmo nome, Castro Daire, a taxa de abstenção foi de 75,9%.
Como é costume, as urnas de voto estão localizadas nas escolas primárias, “no centro das freguesias”, conta. “São locais de fácil acesso”, diz.
A vila de Castro Daire terá uma geografia adversa: subidas a pique, descidas custosas. Mas nada explica uma taxa de abstenção 75,9%, num município com 15.339 habitantes, de acordo com os censos de 2011, e de 94,73% numa das freguesias do centro da vila. Será que os cidadãos de Castro Daire são os portugueses mais eurocéticos? Não, não é por aí.
Rita Oliveira, habitante da vila, não se mostrou surpresa com a taxa de abstenção nas últimas europeias. “Tivemos um boicote às urnas”, diz a rir-se. Conversa com os colegas à sua volta e parece estar a recordar uma situação demasiado cómica para dar atenção ao jornalista.
Em 2009, a maioria dos habitantes do município de Castro Daire estava descontente com o impacto que o mau estado da Estrada Nacional 225 estava a causar na localidade. Os problemas de acessos que criou. As vozes populares uniram-se e decidiram que deviam boicotar a ida às urnas que iam ocorrer para o Parlamento Europeu.
Na freguesia de Cabril, com 414 habitantes segundo os censos de 2011, o descontentamento foi levado um passo mais à frente. “Meteram uns enxames de abelhas” no local de voto da freguesia de Cabril, diz Rita a rir-se. Noutras freguesias, os cidadãos simplesmente não foram votar. O riso é geral à volta de Rita. “Isto é uma terra de trabalho, ninguém liga à política”, diz alguém no fundo. “Se fosse para as autárquicas já se importavam”, diz outra voz, também a rir-se.
Em 2014, o cenário perspetiva-se melhor: não está convocado nenhum boicote. Mas, para Rita, a recente reorganização das freguesias que ocorreu a nível nacional poderá contribuir para a abstenção: as urnas de voto ficaram mais distanciadas da população. Um factor importante num município em que 4.166 habitantes têm mais de 65 anos.

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