domingo, junho 22, 2014

Jaime Gralheiro 1930-2014

Homenagem a Jaime Gralheiro
Por Miguel Barros

Jaime Gralheiro, O Grande Advogado, Homem de Cultura, Escritor e Dramaturgo ("por vocação") Sampedrense, faleceu, nesta 6ª feira, dia 20 de junho, aos 83 anos de idade. As causas da sua morte poderão estar ligadas a uma infeção que levou, há poucos dias, ao seu internamento numa clínica, na Cidade de Aveiro... Jaime Gralheiro - Um Advogado Brilhante, Eloquente e "Teatral" que foi homenageado, recentemente, pela Assembleia da República, por ter defendido vários anti-fascistas durante o regime do Estado Novo e que também recebeu, há pouco tempo, a Medalha de Honra da Ordem dos Advogados, o mais alto galardão previsto por esta entidade para os seus membros... Um Dramaturgo, Encenador e "grande admirador" de Teatro, desde o tempo da sua passagem pela Universidade de Coimbra, fundador do Cénico - Grupo de Teatro Popular de São Pedro do Sul e, mais recentemente, digo eu, a Alma e a inspiração do Grupo de Teatro da Universidade Sénior de São Pedro do Sul... São Pedro do Sul - A sua Mãe-Terra, de onde nunca quis sair e na qual fica perpetuado com o seu nome dado, na celebração dos 40 anos da "Revolução de Abril", ao Cineteatro da Cidade... Do "Senhor Doutor Gralheiro", recordo, em termos pessoais, uma "entrevista jornalística" em sua casa, disfrutando do "bem-estar" do seu escritório, onde ele, fechando os olhos" numa espécie de visualização" do "seu" palco da vida", falava sobre o seu "fraquinho" pelo Teatro e a forma como "usava" a "eloquência teatral" quer nas suas obras quer na sua forma de lidar com o Mundo... Deixando as minhas maiores condolências à família tenho a certeza que São Pedro do Sul e os Sampedrense vão ter saudades da Bengala e do Chapéu do "Nosso Grande Amigo Jaime Gralheiro"!... 

Recordemos um pouco da "História" de Jaime Gralheiro, pela editora "Livraria Almedina":

Jaime Gaspar Gralheiro, viúvo, advogado, dramaturgo e encenador, nascido em Macieira, freguesia de Sul, concelho de S. Pedro do Sul, no dia 7/07/930, portador do BI nº 639180, passado pelo Arquivo de Identificação de Lisboa em 28/6/00. Fez parte do Liceu, até ao 5º ano, em Lamego (Colégio de Lamego) e o resto no Porto (Colégio João de Deus). Licenciado em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, com a nota final de bom. Após o estágio em Viseu (56/58) monta escritório de advogado em S. Pedro do Sul e passa a exercer a profissão de advogado em toda a Região de Lafões (S. Pedro do Sul, Vouzela e Oliveira de Frades) depois, por todo o Distrito de Viseu e, mesmo, por todo o País. Intervem em milhares de processos judiciais, acabando por se especializar nas questões dos Baldios, direitos reais e acidentes de trânsito (sendo advogado de uma Seguradora, ao longo dos últimos trinta anos). Foi Delegado da Ordem dos Advogados em S. Pedro do Sul, desde o início da década de 70. Interveio em todos os Congressos dos Advogados Portugueses, Assembleias Gerais e outras realizações da classe. Como jurista escreveu um “Comentário à(s) Lei(s) dos Baldios”, e outros artigos técnicos, em revistas da especialidade.
Como dramaturgo escreveu as seguintes peças teatrais:
- 1949-“FEIA” ( publicada na revista Inicial do Colégio João de Deus - Porto)
- 1962- “EPIFÂNIO LACERDA” (mais tarde publicada com o nome de “Paredes Nuas” - representada pelo “Aurora da Liberdade, Matosinhos, em 1964);
- 1963- “BELCHIOR” (representada por várias colectividades, depois do 25 de Abril de 1974).
- 1964- “RAMOS PARTIDOS” (estas três peças foram publicadas, em 1967, num livro único, sob o título genérico de Teatro - edição de Autor) ;
- 1964- “FARRUNCHA” (infantil; publicada em 1975 pelo FAOJ); representada inúmeras vezes, por vários grupos de teatro, Escolas e colectividades.
- 1967/68- “O FOSSO” (publicada em 1972, como nº 1 da Cena Actual do Jornal do Fundão); representada, clandestinamente no TUP, por um Grupo de Amadores dos arredores do Porto, antes do 25 de Abril de 1974 e por várias colectividades, designadamente pelo TEB (Barreiro) depois desta data.
- 1973- “NA BARCA COM MESTRE GIL” (publicada em 1978 pela editorial “Caminho”); representada pelo “Cénico” de S. Pedro do Sul, após o 25 de Abril de 1974 e por outros Grupos de Amadores. Foi o último texto integralmente proibido pelo “Exame Prévio” fascista. 2ª edição revista e actualizada no Prelo (Caminho) e em ensaios no Cénico. Leitura aconselhada no Ensino Secundário.
Representada, também, pelo CITEC (Montemor o Velho); Teatro Construção de Joane e em vários outros Grupos e Escolas.
- 1975- “ARRAIA MIÚDA” (publicada em 1976 pela editorial INOVA); representada pelo “Cénico”; TEUC; TEC e outros Grupos de Amadores. Leitura aconselhada no Ensino Secundário.
- 1976- “D. BELTRÃO DE REBORDÃO” (infanto-juvenil; inédita); representada pelo “Cénico”.
- 1977- “O HOMEM DA BICICLETA” (dramatização do romance de Manuel Tiago: “Até amanhã, camarada”; publicada pela SPA em 1982); representada pelo “Cénico”.
- 1978- “VIERAM PARA MORRER” (3º prémio da SEC, publicado pela Moraes, em 1979).
- 1978- “LAFÕES É UM JARDIM” (1 ª versão; inédita);
br> 1980- “ONDE VAZ, LUIZ?” (publicada pela editorial Vega em 1983); representada pelo TEC , numa encenação notável de Carlos Avillez; pelo “Cénico numa encenação do A. e pelo Teatro Construção de Joane).
- 1982- “LANDARILHO, UM SEU CRIADO” (inédita);
- 1986- “O GRANDE CIRCO IBÉRICO” (1º prémio do Concurso do CITAP/ Amadora, 1989; no prelo - D. Quixote/SPA);
- 1987- “A LONGA MARCHA PARA O ESQUECIMENTO” (representada e publicada pelo CETA, Aveiro, em 1987);
- 1989- “SERÃO PARA TRABALHADORES?” - menção honrosa do Citep/Amadora esse ano (inédita).
- 1989- “O SOLDADO JOÃO”- teatralização do conto com o mesmo nome de Luisa Ducla Soares. Infantil. Inédita;
- 1990- “POR MARES NUNCA DANTES NAVEGADOS”- série televisiva exibida: participou com dois textos, no 1º episódio;
- 1990- “MINHA LOUCURA OUTROS QUE A TOMEM...” (série televisiva; inédita);
- 1990- “LAFÕES É UM JARDIM” (2ª versão) representada pelo “Cénico” (inédita em livro);
- 1991- “AMOR DE PEDRA” - didático-infantil. Inédita.
- 1992- “ERA UMA VEZ UM CORAÇÃO”, teatralização de um texto didático do Prof. Políbio Serra e Silva - representada pelo “Cénico/Infantil” (inédita em livro)
- 1995- “CO-MU-NI-CA-ÇÃO!”. Brincadeira infantil. Inédita.
- 1995- “É(H) MEU!” (para adolescentes). Representada pelo “Cénico/juvenil em 1995/96; em vias de publicação pela D.Quixote/ SPA).
- 1996- “EUREKA! - ou a Alegria da Descoberta”, infanto-juvenil, em ensaios no “Cénico/Juvenil”. Inédita.;
- 1997- “GRAÇAS E DESGRAÇAS D’EL-REI TADINHO” (infantil) - teatralização do conto de Alice Vieira com o mesmo nome.
- 1997- Homenageado como Autor do Ano, pelo 7º Ciclo de Teatro de Autores Portugueses (CITAP/Amadora) com exposição da sua obra (autor e encenador) e sessão pública de homenagem (Maio).
- 1997- Recebeu o Galardão do Centenário do Nascimento da patrona da Casa-Museu Maria da Fontinha (10 de Junho ).
- 1997- Homenageado, por toda a sua obra, pela revista ANIM’ARTE de Viseu, em 12 de Julho .
- 1998- “NA BARCA COM MESTRE GIL”, nova versão rescrita (inédita).
- 1998 – Atribuição da Medalha de Mérito Cultural, pelo Sr. Ministro da Cultura (8 de Maio).
- 1998 – Indigitado para receber o Diploma e Medalha de Instrução e Arte, atribuida pela Federação Portuguesa das Colectividades de Cultura e Recreio (a ser concedida em 31 de Maio).
- 1999 – 2ª edição de “Na Barca Com Mestre Gil” e “Arraia Miúda” – Ed. Sindicato Professores da Região Centro.
- Na área da historiografia escreveu, ainda: “História do Cénico - ou 25 anos de um País através de uma associação de cultura e recreio” (1996) - inédita.
- Em 1971, funda com José de Oliveira Barata e Manuela Cruzeiro, o “Cénico - Grupo de Teatro Popular” de S. Pedro do Sul, encenando em conjunto com José O. Barata, os seus três primeiros espectáculos: “Auto da Compadecida” de Areano Suassuna; “Sapateira Prodigiosa” de Federico Garcia Lorca e “Na Barca com Mestre Gil” da sua autoria. A partir de 1975 passa a encenar, sozinho, todos os espectáculos montados pelo “Cénico”: “Arraia Miúda” ( 1975/76); “O Homem da Bicicleta” ( 1977/78); “D. Beltrão de Rebordão” (1988/89); “A Grande Jogada” de José Viana (1980); “Viva o Lobo Mau” e “Farruncha” (1985); “Lafões é um Jardim” (1990/91); “Onde Vaz, Luiz?” (1991/92); “Era uma Vez um Coração” (“Cénico/infantil”; 1992/93); “Tartufo” de Molière/Llovet (1993/94); “Viva o Lobo Mau” e Farruncha (“Cénico/Infantil; 1994/95) e “É (H) MEU!” (“Cénico/Juvenil” : 1995/96 ); “Vem aí o Zé das Moscas” (Cénico/Infantil) de António Torrado que subiu à cena em Maio de 97.
- Interveio em todos os Congressos, várias Assembleias e inúmeras Reuniões que, sobre o Teatro, se realizaram em Portugal, desde 1971. Obteve vários prémios de Teatro, quer como autor quer como encenador (3 primeiros) e outras menções honrosas. Foi considerado o Autor português mais representado no ano de 1978. Tem desenvolvida uma intensa actividade cultural, na área do Teatro, junto das Escolas (mais de cem acções, com a duração de cerca de 3 horas, cada, em toda a Região Centro: desde Cinfães (Viseu/norte) até à Caranguejeira (Leiria) e desde Esmoriz (Aveiro/norte) até ao Fundão ( Beira Baixa). (Nota 2). Foi nomeado formador pelo Conselho-Pedagógico da Formação Contínua do Ministério da Educação, nas áreas do Direito e Expressão Dramática (18/9/96).Tem escrito em jornais (“DL”, “República; “Diário” e “DN” - onde durante quase um ano (1995/96) manteve uma crónica semanal. Também colabora em jornais e rádios locais, designadamente na “Rádio Noar” de Viseu, onde, desde os princípios de 96, atira, semanalmente, para o ar a ironia das suas crónicas de evocação histórico-cultural de uma cidadezinha de Província, que tendo começado em 1941, já vão em 1974... Foi Presidente suplente Direcção da Sociedade Portuguesa de Autores (SPA) na década de 80, e foi Vice- Presidente da Mesa da A.G. da mesma SPA, desde 1989 a 1997. Ao lado da sua actividade profissional e artística, desenvolveu uma aguerrida actividade política, tendo, antes do 25 de Abril de 74, participado, desde 1965, em todas as “campanhas eleitorais” pela Oposição Democrática e no 2º e 3º “Congresso de Aveiro”, tendo, neste dirigido a secção de “Desenvolvimento Regional”. Depois do 25 de Abril de 1974, foi o primeiro Presidente da Comissão Administrativa da Câmara de S. Pedro do Sul, de onde foi “corrido” no “Verão Quente de 75”. Desta “explosiva” experiência e como se fora um “testamento”, nasceu a “Arraia Miúda”. Encabeçou a candidatura do MDP/CDE, à Assembleia Constituinte, pelo distrito da Guarda. Depois disso, até aos anos de 90, foi sempre candidato (normalmente cabeça de lista) do PCP às várias eleições legislativas, pelo distrito de Viseu. Nunca foi eleito. Pela mesma força política concorreu, várias vezes, às eleições autárquicas, em S. Pedro do Sul, tendo sido eleito vereador, em 1978, e para a Assembleia Municipal, sempre que concorreu.
Nota 1: de uma carta de um pai de um dos pequenos actores do “Cénico/Infantil”: (...) “Minha família, como muitas nesta sua terra, estará sempre em dívida pelo seu trabalho, sem preço, oferecido à educação dos nossos filhos” (...)
Nota 2: “4 de novembro de 1998: 17h17m: ACABAMOS DE SAIR DO AUDITÓRIO DOS SERVIÇOS GERAIS DO IPG onde assistimos a uma espectacular (é o termo) conferência – performance realizada pelo Dr. Jaime Gralheiro. O evento abordou a temática do trabalho do professor enquanto trabalho de actor. O conferencista demonstrando uma capacidade de comunicação que ultrapassa em muito o razoável e que assenta num cuidado trabalho de actor deu mostras de dominar excelentemente todas as técnicas dramáticas. A voz e a sua colocação, a palavra e a sua articulação (mas também as pausas, os silêncios, a entoação) tudo contribuiu para o bailado dos sons, dos gestos e dos movimentos com que o actor-concertista contemplou os presentes. Tudo isto em bom e vernáculo português. A pedagogia teatral a par com uma séria ideia do que é educar fez com que este acontecimento se tornasse um importante momento de reflexão sobre o que é educar nos tempos de hoje. Educar para uma nova cidadania é nestes últimos anos a palavra de ordem que todos os educadores anseiam por seguir, esta ideia surge aliada a uma outra: modernidade. Temos medo de nestas parcas linha não fazer jus ao génio comunicativo que se passeou ao longo do palco do anfiteatro do IPG, não queremos deixar de agradecer, no entanto, ao Dr. Jaime Gralheiro a intensidade inteligente da sua performance. Acção soberbamente bem dirigida para uma assistência juvenil muito acentuada, mas onde não deixavam de pontuar alguns docentes da ESEG. É graças a pedagogos como o Dr. Jaime Gralheiro que ensinar é hoje um acto feliz e saudável. -a) Mário Gomes”

NOTAS FINAIS:

Em 25 de Abril de 2014, Jaime Gralheiro foi distinguido, pela Câmara Municipal de São Pedro do Sul, com a atribuição do seu nome ao Cineteatro da Cidade.
Jaime Gralheiro foi também, homenageado, recentemente, pela Assembleia da República, por ter defendido vários anti-fascistas durante o regime do Estado Novo. Jaime Gralheiro também recebeu, há pouco tempo, a Medalha de Honra da Ordem dos Advogados, o mais alto galardão previsto por esta entidade para os seus membros...

por: Miguel Barros

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