Vivemos num país que ciclicamente muda o peso do seu estado
social. Durante o estado novo tinha um peso reduzido, e o pós 25 de Abril veio
trazer um aumento considerável, com conquistas nos mais variados domínios. Na
última década assistimos a uma perda progressiva dessas conquistas, que tinham
aumentado o peso do estado social.
Paralelamente a isso assistimos desde a Revolução dos Cravos a um
aumento generalizado dos impostos sobre o trabalho, por um lado, e a uma
progressiva perda de qualidade dos políticos por outro.
Integrando estes três vetores, diminuição do estado social, aumento de
impostos, e políticos cada vez mais fracos, leva a que hoje se “compre gato por
lebre”, pagamos algo caro e adulterado.
Políticos cada vez mais fracos, geração pós geração, no PS, Sócrates pior que
Ferro Rodrigues, este pior que Guterres, Guterres pior que Mário Soares, no
PSD, Passos pior que Ferreira Leite, esta pior que Santana, Santana pior que
Durão, Durão pior que Cavaco, Cavaco pior que Sá Carneiro, no CDS, Portas pior
que Monteiro, Monteiro pior que Freitas, no PCP, Jerónimo pior que Carvalhas, e
este pior que Cunhal, nos Presidentes da República também se tem assistido à
mesma progressão.
Devido a líderes políticos fracos, a políticas ainda piores, o país tem perdido
capacidade de se desenvolver e desta forma potenciar a capacidade dos
portugueses terem rendimentos do trabalho capazes de sustentarem o estado
social, e assim, perante a situação da crise passada, a solução encontrada foi
sempre o aumento de impostos e corte nos serviços prestados pelo estado aos
cidadãos. Já no contexto político atual, e com alguns reajustes favoráveis aos
contribuintes, com alguns cortes nos impostos nos rendimentos do trabalho, se
tem mantido os serviços sociais do estado num estado de permanente falta de
meios, bem visível quer nos serviços de saúde, quer de socorro ou de proteção
civil.
Chegamos, por isso, ao ponto em que nos situamos hoje, em que pagamos muito e
recebemos pouco. Em que um trabalhador que quanto mais paga de impostos menos
beneficia dos serviços sociais. Em que um trabalhador com um salário pouco
superior ao salário mínimo tem de contribuir muito, e receber pouco.
Pagamos para ter acesso à saúde, pagamos para ter acesso à educação, pagamos
para termos acesso à justiça, pagamos para circular nas estradas, pagamos
portagens, pagamos estacionamento, pagamos, pagamos, pagamos… e depois os
respetivos serviços são de qualidade duvidosa, ou mesmo sem capacidade de
resposta quando mais são necessários.
Os tais maus políticos fecharam cada vez mais escolas, hospitais, centros de
saúde, tribunais, freguesias… Os tais maus políticos não são capazes de
manterem um estado que seja capaz de ter operacional um sistema que proteja os
cidadãos! Uns faziam cortes, outras fazem cativações!
Toda esta envolvência leva a sociedade a questionar-se sobre a utilidade do
estado social, e se vale a pena estar a pagar algo que tem, muitas vezes,
qualidade questionável e que muitas vezes custa quase o mesmo que o serviço no
privado. Se vale a pena estar a pagar um estado que é incapaz de nos manter em
segurança.
Perante interesses económicos e políticos, os líderes políticos, pelo facto
serem tão fracos, não têm a coragem nem a capacidade necessária de os
enfrentar. Assim como também lhes faltam os mesmos atributos para frontalmente
acabarem com a universalidade do estado social, é-lhes mais fácil criar na
própria sociedade a opinião de que não vale a pena termos um estado social.
Conseguem acabar com a solidariedade entre concidadãos e entregam essa
sociedade ao capitalismo selvagem, em que cada um se governa por si só.
Assim perante esta tentativa de acabar com estado social, ou de o reduzir a
estado assistencialista, através da nossa desistência, há que resistir em cada
um de nós à tentação de desistirmos do sonho de uma sociedade solidária.